10 anos de Mineração &/X Comunidades

Em 2016, após o acidente de Mariana, a mineração encontrava-se em um de seus piores momentos, sendo questionada por praticamente todo mundo. Naquele momento, Brasil Mineral julgou que o setor precisava discutir suas relações com as comunidades.
Por Francisco Alves
Em 2016, após o acidente de Mariana, a mineração encontrava-se em um de seus piores momentos, sendo questionada por praticamente todo mundo. A mídia, a sociedade em geral e até a igreja demonizava o setor, como sendo sinônimo de desgraça.
Naquele momento, Brasil Mineral, que desde sua origem, há mais de quatro décadas, defende uma mineração sustentável do ponto de vista ambiental e principalmente social, julgou que o setor precisava discutir suas relações com as comunidades, com ênfase naquelas que vivem próximas aos empreendimentos, mas também com todos os outros stakeholders, enfim, a sociedade em geral. Não dava mais para fazer de conta que estava tudo bem, que os danos causados seriam reparados e a vida seguiria em frente, tudo como antes, no quartel d’Abrantes.
Por isso decidimos organizar, naquela época, o primeiro Mineração &/X Comunidades. Muita gente estranhou e até nos criticou por colocar o X (no sentido de versus) no nome do evento. Que ao fazermos isso, estaríamos assumindo que a mineração era contra as comunidades. Era difícil, para alguns, assumir que havia, de fato, casos em que as relações da mineração com as comunidades não eram um mar de rosas.
Sem dúvida havia iniciativas e ações positivas, por parte de algumas empresas, que entendiam não ser possível mais se operar sem a licença social. E licença não no sentido de permissão, mas de aceitação e inclusive de defesa da atividade. Mas ainda eram – e são infelizmente – registrados casos de desarmonia, de dificuldades e obstáculos na implantação dos empreendimentos. Por isso o X da questão. Claro que gostaríamos de ver esse X desaparecer, mas de verdade, não apenas eliminando-o do nome do evento ou adotando medidas de faz de conta.
Apesar das reticências de alguns, o primeiro Mineração &/X Comunidades foi um sucesso, reunindo em Belo Horizonte quase 300 pessoas, que discutiram temas bastante relevantes, com destaque nas consequências do rompimento da barragem do Fundão.
A ideia, quando realizamos o primeiro evento, era ter sua realização a cada dois anos. Mas o setor admitiu que o tema era relevante e que a questão das relações entre mineradoras e comunidades deveria ser discutida com maior frequência. Decidimos, então, promover sua realização anualmente.
Por sugestão de empresas que atuam na Amazônia, onde as questões socioambientais também passaram a ganhar importância, com diversos novos empreendimentos minerários, decidimos fazer o segundo evento em Belém, que este ano sediará a COP 30. Mas, talvez devido à distância, além de outros fatores, o 2º Mineração &/X Comunidades não teve o sucesso que se esperava – pelo menos em número de presentes – embora as discussões tenham sido extremamente profícuas. Talvez por Minas Gerais se manter como o centro da mineração no País e devido à grande proximidade geográfica entre os empreendimentos e as comunidades, Minas também concentra os maiores conflitos. Por isso, a partir do 3º Mineração &/Comunidades decidimos adotar Belo Horizonte como a sede do evento.
A terceira edição do evento teve como tema “Como estabelecer relações sustentáveis”, por entendermos que um projeto de mineração dura anos, décadas, e se houver fragilidade nas relações estabelecidas com as comunidades, mais cedo ou mais tarde tais relações se esgarçam e os eventuais conflitos se agudizam.
A quarta edição, em 2019, teve como tema “Como Construir uma Nova Realidade”, prosseguindo como a discussão de que era preciso dar a volta por cima, algo que o setor vinha tentando fazer, embora desordenadamente.
Em 2020 veio a pandemia, que pegou todo mundo de surpresa. As atividades presenciais foram restringidas ao pessoal que era vital nas operações. Consideramos que o Mineração &/X Comunidades não podia ser interrompido e pela primeira vez realizamos o evento virtualmente, o que teve seu lado positivo, porque as pessoas podiam assistir no conforto de suas casas ou dos ambientes de trabalho. Naquela época, o tema ESG despontava como uma necessidade na política de gestão das empresas. Portanto, a principal questão discutida foi ESG e Governança.
A pandemia Covid-19 prosseguiu em 2021 e novamente o evento teve que ser realizado virtualmente, ainda batendo na tecla da Governança Social, colocando o G como a letra mais importante do ESG.
Em 2022, com o arrefecimento da pandemia e a retomada das atividades, voltamos a realizar o evento de forma presencial e continuamos a discussão sobre o ESG, agora comparado com os ODS da ONU. De que forma os dois se complementavam ou competiam? A conclusão foi que um estava intrinsecamente ligado ao outro.
Em 2023, voltamos a discutir sobre a possibilidade de se tirar o X da questão. Os debates e discussões indicaram que não, que ainda havia problemas e a harmonia ainda era uma meta a ser perseguida.
Em 2024, no 9º Mineração &/X Comunidades continuou a discutir as possibilidades de se harmonizar os interesses, ainda com o X da questão. Dois focos de discussão importantes foram as questões relacionadas com Diversidade e Inclusão, quando pela primeira vez o evento contou com a participação de uma representante indígena, e novamente o ESG, com foco na governança.
O 10º Mineração &/X Comunidades, trouxe à tona novamente a questão de Mariana, com o objetivo de se discutir os aprendizados na década que transcorreu desde o acidente e mais uma vez os ODS e ESG, desta vez questionando se ambos foram apenas uma moda passageira.
A síntese de todas essas discussões realizadas nos 10 eventos está nas páginas da Brasil Mineral, nas versões impressa e digital.
Infelizmente, ainda mantemos o X, que, embora tenha perdido força, permanece, apesar de todos os avanços conseguidos ao longo destes anos, como poderá ser visto no prêmio Mineração & Comunidades (neste caso sem o X), que mostra as diversas iniciativas realmente meritórias que estão sendo desenvolvidas pelo setor mineral. Esperamos que, efetivamente, possamos, no futuro próximo, retirar o X da questão sem o risco de estarmos sendo condescendentes na análise das relações entre o setor mineral e as comunidades.
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