
Em cerimônia realizada na noite do dia 22 de outubro, em Belo Horizonte, foi realizada a entrega do Prêmio CBMM de Ciência e Tecnologia, que chega à 6a. edição. O prêmio foi criado em 2019, para valorizar e reconhecer profissionais que, por meio de pesquisas e desenvolvimentos tecnológicos, impactam o Brasil e o mundo.
Na categoria Ciência, o vencedor foi Marcos Pimenta, graduado e mestre em Física pela UFMG, com doutorado pela Université d’Orléans, na França, e pós-doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT), que criou o Laboratório de Espectroscopia Raman, na UFMG. O espaço é dedicado a encontrar respostas sobre materiais que estão transformando a eletrônica e a computação. O trabalho de Marcos Pimenta foi desenvolvido para desvendar o funcionamento dos elementos que tornarão possíveis as evoluções de tecnologias, como o grafeno e os nanotubos de carbono. Ele liderou a criação do laboratório de Espectroscopia Raman da UFMG, que estuda materiais nanoscópicos (1000x menores que os microscópicos) a partir da espectroscopia Raman - técnica que consiste em jogar um feixe de luz em um material e examinar o comportamento de seus átomos e elétrons. O pesquisador também se dedicou, juntamente com outros colegas, à escrita da coleção de livros “Energia, Matéria e Vida”, que traduz o conhecimento científico para alunos do ensino médio, tornando o assunto mais palatável, acessível e incentivando a descoberta da ciência pelos jovens.
Na categoria Tecnologia, o prêmio coube a Marcelo Amato, que é doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo e atual chefe da UTI-Respiratória do INCOR-Hospital das Clínicas. Amato dedicou-se a descobrir e aprimorar instrumentos e monitores em unidades de tratamento intensivo, com o objetivo de reduzir a mortalidade em pacientes intubados e aperfeiçoar o trabalho nas Unidades de Tratamento Intensivo. De 1995 a 2005, uma série de trabalhos publicados por ele e seus colegas de laboratório mudaram o paradigma da ventilação mecânica ao redor do mundo, demonstrando que a estratégia utilizada entre os anos 1970 e 1990 causava inflamação oculta do tecido pulmonar, duplicando a mortalidade dos pacientes.
A tecnologia por ele desenvolvida permite uma ventilação pulmonar mais protetora, é não-invasiva e isenta de radiação ionizante. Por poder ser utilizada à beira-leito, evita o transporte arriscado do paciente, tem resolução temporal equivalente ao ultrassom e ainda possui custo 100 vezes menor que o de um equipamento de tomografia convencional. O equipamento foi inteiramente desenvolvido no Brasil e já é exportado para 28 países, com aprovação do FDA (Food and Drug Administration), agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos.
De acordo com o CEO da CBMM, Ricardo Lima, a premiação é uma maneira de a empresa apoiar a comunidade que tem impulsionado o conhecimento e inovação no País. “O prêmio CBMM de Ciência e Tecnologia, criado em 2019, chega a sua 6a. Edição, já como uma das mais importantes premiações do Brasil. Prova é o número recorde de 2.448 inscrições em 2024. Os profissionais reconhecidos na premiação transformam o mundo de maneira concreta. Desvendam os mistérios da nanotecnologia e abrem portas para um futuro em que dispositivos quase invisíveis permitem desenvolver tarefas que antes eram inimagináveis.
E que pacientes em unidades de tratamento intensivo tenham acesso a cuidados por meio de tecnologias menos invasivas. Estimular e promover a pesquisa brasileira é essencial para impulsionar o país como agente de desenvolvimento. As abordagens criativas e inteligentes que os vencedores do prêmio encontraram para vencer desafios, desenvolver soluções inovadoras reforçam a confiança no poder transformador da ciência e da tecnologia. Esperamos que este prêmio mostre às novas gerações de cientistas que a caminhada vale a pena. O exemplo dos vencedores inspira novos talentos. E posso acreditar que é possível desenvolver trabalhos relevantes e contribuir significativamente para o avanço do conhecimento no País”, disse o CEO.
A comissão julgadora, que é considerada “a alma do prêmio”, é formada por especialistas renomados em suas áreas, pessoas que tiveram liderança em ciência e tecnologia no Brasil. Os membros, que estão na comissão desde a primeira ediçãodo prêmio, são: Helena Nader, Edgar Zanotto, Hélio Machado Graciosa, Jorge Almeida Guimarães, Álvaro Guerra, Luiz Davidovich e Mário Neto Borges.
No discurso de agradecimento, Marcos Pimenta agradece a UFMG, que lhe proporcionou uma estrutura sólida e condições para realizar o trabalho de pesquisa e criticou o corte de orçamento das instituições de fomento à educação e à pesquisa, que, em sua visão, são patrimônio dos brasileiros. E fez uma homenagem a todos os professores da educação básica no Brasil, que têm sido sistematicamente desprestigiados, figurando entre os profissionais com os piores salários no País. “Sonho com o dia em que os professores brasileiros terão seu valor reconhecido, como ocorre em outros países”, afirmou.
Marcos Amato, por sua vez, disse que salvar vidas, através do seu trabalho, foi a maneira que ele encontrou para fugir da morte, algo que sempre o atormentou desde a juventude. E também agradeceu às instituições que lhe permitiram desenvolver o seu trabalho de pesquisa.
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