
O último painel do 9º. Encontro Nacional da Média e Pequena Mineração teve como tema ‘Imagem e Comunicação do Setor Mineral’ com a participação de Pedro Burnier (Serra Verde), Sandra Maia de Oliveira (ANEPAC), Silvana Bittencourt (O Popular) e Juliana Carnevalli (Jornalista Minde), Rolf Fuchs (Integratio), como palestrante, e moderação de Francisco Alves (Brasil Mineral).
Inicialmente, Rolf Fuchs (Integratio) abordou o tema do debate dizendo que a sociedade ainda tem uma visão negativa do setor mineral. Muitas vezes, as mineradoras, independente do porte, ajudam os municípios com a CFEM, mas a contrapartida não é a mesma. Em Goiás, houve o fechamento de quatro operações e as prefeituras só se dão conta do prejuízo depois de não ter mais a contribuição da mineração. “Somando mineração industrial, legal, garimpo legal e ilegal, o setor ocupa 0,5% do território brasileiro, enquanto o agro chega a quase 40%. Entre os benefícios, a mineração gera 10 empregos por hectare e o valor agregado é de R$ 417 mil por hectare, dez vezes superior ao da energia.
O X da questão, segundo Rolf, é a percepção da sociedade. De dez notícias, oito são negativas e o restante neutras ou positivas. “As mineradoras são vistas como predadoras ambientais, exploradores, usurpadores de riqueza, enriquecem poucos e deixam muitos na miséria, soberbos, não se comprometem e as grandes mineradoras são avaliadas diferentemente de pequenas, médias e garimpos, sendo este último visto com certo romantismo. É uma característica da sociedade brasileira”.
Além disso, Rolf citou que o setor mineral tem lidado com comunidades politizadas e engajadas, movimentos sociais atuantes, desastres socioambientais e relações de conflito, uma legislação cada vez mais rígida e a comunicação instantânea – essa é a salada onde a mineração se encontra”. A mineração tem que entender que as comunidades estavam lá antes do projeto e continuarão no local após o fechamento da mina e é necessária aceitação social para economizar tempo e dinheiro. Atualmente, se a sociedade não conhecer realmente o projeto, dificilmente a mineradora conseguirá emplacar o empreendimento. Para melhorar a imagem e a reputação do setor mineral junto à sociedade, Rolf comenta que tem que distinguir imagem e reputação. A reputação é construída e mais sólida, mas leva muito mais tempo, baseada em valores, relacionamentos, práticas de ESG e a comunicação é uma das partes desse processo. “Se não existir respeito em qualquer contato, ele tende a ser conflituoso, e a sociedade precisa ser ouvida e informada”. As mineradoras têm que conhecer pessoas e o território e atuar em conjunto. Para isso, é fundamental mapear os stakeholders, investir em canais diretos, formar alianças estratégicas, documentar e compartilhar boas práticas e monitorar as percepções para ter embaixadores locais multiplicados.
A imagem do setor deve ser mudada com narrativa, coerência e deve-se humanizar o discurso com as pessoas. É um diálogo de pessoas para pessoas, além de estabelecer processos de governança e compliance, garantir procedimentos éticos, melhorar os processos de relacionamento, investir em iniciativas que respondam à complexidade do contexto, repensando práticas de investimento social, debater profundamente segurança e poluição ambiental com a comunidade, enfim, fazer o dever de casa.
Rolf comentou sobre quais caminhos devem ser trilhados pela mineração e sobre a dificuldade de comunicação com o público jovem. “A sociedade quer ouvir sobre clareza, transparência, honestidade, para acreditar que não está sendo enganada. No século passado, a situação era a mesma e o sindicato sempre teve um papel bem mais ágil que o setor. A sociedade não aceita mais certas práticas para um setor paquiderme e não sei dizer como atender o público jovem. Precisamos de mais atores nesse tempo da juventude de hoje e que se disponham a fazer a interface. Temos que criar confiabilidade para ter discurso consistente e resultados favoráveis junto às comunidades”.
Silvana Bittencourt (O Popular) afirmou que mudar a comunicação entre as partes é de interesse público e os repórteres confirmam sobre a dificuldade de comunicação na área e a distância da indústria mineral e a cultura do sigilo, o que dificulta a comunicação com todos. “A maioria das reportagens acabam sendo negativas e as boas práticas não são divulgadas por falta de transparência. As empresas precisam destacar sua importância e os investimentos em transição energética, já que é algo positivo e que vai atingir a sociedade, e explicar como a indústria avança para a sustentabilidade”. É mais entender o motivo do agronegócio, mas dificilmente as pessoas vão entender que um microfone, telefone tem mineração. Explicar os impactos ambientais também é necessário para que as pessoas entendam todo o processo ao longo do desenvolvimento dos projetos.
“Os jovens mantêm uma certa distância do setor, mas é um tema que desperta interesse desde que saiba ser comunicado”, disse Silvana. As empresas de comunicação têm investido no digital para alcançar esse público (podcasts, redes sócias, sites) e que pode mudar tal cultura ao longo do tempo.
Na sequência, Sandra Maia de Oliveira (ANEPAC) abordou a indústria de agregados (areia e brita) de pequena e média mineração, que precisa estar próxima dos tecidos urbanos e o custo de frete impacto o custo final. “Nós precisamos ter um diálogo próximo com as comunidades, precisamos melhorar na transparência, melhorar a reputação e que as organizações do setor possam trabalhar com ética e que haja governança nas entidades setoriais para levar e divulgar para todos os associados as boas práticas de mineradores nas suas minas. “Tudo que se produz no estado fica no estado e os empresários devem achar bons interlocutores na esfera política para desmistificar a mineração, pois há muito preconceito com o setor, mesmo do técnico que vai despachar os licenciamentos”. A mineração precisa demais da publicidade de bons exemplos para mostrar os benefícios que a mineração gera nas comunidades com geração de emprego e aumento da renda familiar, capacitação. “Nossos filhos são bombardeados com uma política preconceituosa com o agro e mineração. Talvez pudéssemos convencer o MEC para que o jovem seja apresentado à mineração cada vez mais cedo”.
Juliana Carnevalli (Jornalista Minde – Mineração, Inovação e Desenvolvimento) comentou que a imagem da mineração pode ter várias respostas. “A mineração tem que sair do buraco e assumir a narrativa da comunicação que mostre como o setor evoluiu e que a visão social também cresça. Sem comunicação não se muda uma sociedade. “Mineração moderna que investe em tecnologia e que é comprometida com o meio ambiente é a mensagem do sindicato e que é responsável por tudo que faz. A atividade é essencial para todos e temos uma coluna quinzenal para contar boas práticas do setor. Também criamos pílulas de 45 segundos a um minuto para explicar no rádio a importância da população para a comunidade”. Ela informou que a agência Minera Brasil entrevistou 343 jornalistas para saber a opinião sobre a mineração brasileira e 76% das respostas relacionaram a atividade a impactos negativos, 72% relacionaram a atividade com impacto ambiental, conflito com comunidades e 53,5% consideram difícil o relacionamento com o setor. Para 45%, as assessorias poderiam facilitar o acesso a dados, fontes e informações confiáveis. Se houvesse uma comunicação do setor, mais de 70% dos repórteres responderam que cobririam mais o setor. Para Juliana, temos que fazer um trabalho de mudança de imagem para atuar na comunicação com as crianças e atrair a comunidade para explicar os caminhos da mineração para construir uma nova imagem.
Por último, Pedro Burnier (Serra Verde) comentou sobre a política de comunicação da empresa para divulgar o projeto de argila iônica em Goiás. “Hoje é fácil falar sobre terras raras pelo contexto mundial e há divulgações da empresa em diversos veículos internacionais. Temos princípios de sustentabilidade desde o início da implantação do empreendimento e sempre criamos a reputação com 95% de favorabilidade da população de Minaçu. Eu não tenho dúvidas de que as mineradoras sabem se comunicar localmente e com qualificação de fornecedores no município e entorno por meio de parcerias com o SENAI. Hoje temos podcasts com informações mais rápidas para cativar as gerações mais novas. Transparência, integridade e mostrar o que a empresa faz é essencial para a comunidade conhecer o trabalho. Precisamos de uma construção de uma nova narrativa para o setor”. “Na Austrália, o setor mineral percebeu esse distanciamento dos jovens e investiu em tecnologia para atrair esse público”.
Francisco Alves (Brasil Mineral) afirmou que as mineradoras têm dificuldade de atrair os jovens e o interesse deles pelo setor é quase mínimo. A não ser que tenha algo relacionado com TI, algo digital, há algum interesse. “Uma pesquisa recente da Brasil Mineral mostrou que 35% do nosso público está na faixa etária de 18 a 34 anos. Isso indica que há interesse, principalmente na imprensa especializada como fonte de comunicação. Entretanto, a comunicação não é a mesma para todos os públicos e o interesse de leitura pela imprensa mais tradicional tem caído sistematicamente e dificilmente, em um evento como este, vamos conseguir atrair um público geral. A mineração tem que mostrar que faz as coisas direito e as companhias precisam abrir suas portas. A comunicação é parte desse processo”, disse ele.
O Encontro tem patrocínio Ouro da XCMG, Metso, Geosol, Alpha Minerals, Ígnea – Geologia e Meio Ambiente e Governo de Goiás ; patrocínio Prata da Mineração Serra Verde e Hochschild e patrocínio Cobre da GE21 Consultoria Mineral, Aclara Resources, Lundin Mining, Hazemag, Companhia Brasileira do Alumínio (CBA) e U&M. O evento é realizado pela Brasil Mineral, Minde e Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral e Mineração (ABPM).
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