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ADI no STF questiona projeto da Sigma Lithium no Jequitinhonha

Por evando
ADI no STF questiona projeto da Sigma Lithium no Jequitinhonha

Uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) protocolada no Supremo Tribunal Federal (STF) questiona a legalidade do projeto de extração de lítio da Sigma Lithium no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. A ADI contesta ainda financiamento de R$ 486,7 milhões aprovado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para ampliação do projeto Grota do Cirilo.

Um aporte inicial do Fundo Clima previa a expansão da produção de concentrado de lítio de 270 mil para 520 mil toneladas por ano. O BNDES e a Sigma arguentam que o empreendimento é sustentável, classificado como “carbono líquido zero”, sem uso de químicos nocivos, barragens de rejeitos ou água potável. No entanto, a ADI, apresentada pela Deputada Federal Célia Xakriabá (PSOL-MG), alega que o projeto agrava a crise climática e social na região. Com base em nota técnica do consórcio de universidades LIQUIT (UFMG, Unimontes, UFVJM e London South Bank University), a ADI aponta o que chama de “ilegalidade calculada” no processo de licenciamento ambiental. Entre os principais argumentos, a ação sustenta que o projeto foi deliberadamente dividido em partes menores, uma manobra conhecida como license-splitting, com o objetivo de evitar um estudo de impacto ambiental integrado, o que violaria o Decreto Estadual nº 47.383/2018.

A ADI considera duas falhas graves na realização do projeto: a ausência de Consulta Prévia, Livre e Informada das comunidades quilombolas afetadas — “um direito fundamental assegurado pela Convenção 189 da Organização Internacional do Trabalho (OIT)” — e acusações de que as audiências públicas foram manipuladas para simular um apoio popular inexistente, prática conhecida como astroturfing (*). Além disso, a ADI questiona a imparcialidade dos estudos de impacto que, segundo os autores da ação, teriam sido elaborados e aplicados pela própria Sigma, levantando a suspeita de conflito de interesses e comprometendo a independência técnica necessária. Com base nesses argumentos, a ADI classifica o financiamento do BNDES como um ato de “corrupção ambiental” e um “crime de lesa-pátria”, afirmando que ele desvirtua a finalidade do Fundo Clima.

A questão hídrica é outro ponto crítico levantado pelos autores, “uma vez que a Sigma obteve outorga para usar 3,6 milhões de litros diários de água em uma região semiárida que enfrenta escassez crônica, fato agravado por um cenário climático extremo: um estudo do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) revelou que o Vale do Jequitinhonha concentra 18 das 20 cidades que mais aqueceram no Brasil em 2023”.

(*) Segundo o Gemini, “astroturfing é uma prática enganosa de marketing ou relações públicas que busca criar a ilusão de um movimento popular genuíno para uma ideia, produto, política ou pessoa, quando na verdade esse movimento é ‘artificial’ e orquestrado por uma organização ou indivíduo com interesses específicos. O termo é um trocadilho com ‘grassroots’ e ‘Astroturf’, uma marca de grama sintética.

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