Alta de preços pode gerar um boom de novos projetos?

O encontro, realizado no escritório Mattos Filho em São Paulo, reuniu os maiores especialistas do setor mineral para debater como o Brasil, com suas vastas reservas inexploradas, se posiciona como uma das principais fronteiras globais para investimentos em projetos auríferos.
Os projetos de ouro no Brasil são um bom negócio? Este foi o tema do seminário promovido por Brasil Mineral em São Paulo, no dia 7 de outubro, no auditório do escritório Mattos Filho e que teve em sua programação uma palestra do diretor Financeiro da Kinross no Brasil, Frederico Deodoro, que falou sobre o “potencial do Brasil para o desenvolvimento de projetos de ouro”, seguida de três painéis versando sobre o ouro como oportunidade de investimento no mercado financeiro nacional, estruturação de projetos de ouro e governança e rastreabilidade.
Em sua palestra, Frederico Deodoro disse que o movimento de alta do preço do ouro atual é inédito e, em termos reais, está bem acima das altas que aconteceram nos anos 1970, 1980 e de 2010 a 2012. Porém, ele alertou que os produtores devem estar atentos aos custos, “pois enquanto o preço sobe e desce de elevador, o custo sobe de escada, não para de subir e a margem de lucro não sobe proporcionalmente ao preço”, lembrando que em 2013/2014, quando o preço do metal teve queda abrupta, vários produtores que haviam tomado decisões de investimento para crescer rapidamente, tiveram perdas muito relevantes.
Sobre a produção empresarial de ouro no País, o executivo da Kinross disse que, considerando apenas as empresas que são filiadas ao World Gold Council, existem cerca de 20 mil pessoas envolvidas, direta ou indiretamente, e que o segmento contribui com mais de US$ 3 bilhões anuais para a economia local. E que há 500 mil hectares em concessões de lavra, menos da metade das permissões de lavra garimpeira, que somam 1,2 milhão de hectares. Incluindo os direitos minerários relacionados com pesquisa mineral, o número já pula para 70 milhões de hectares, o que significa que há muita gente pesquisando ouro no território nacional.
Porém, segundo Deodoro, nem tudo são flores, porque operar uma mina a partir do zero é algo mais difícil na atualidade. “Enquanto nos anos 1990 gastava-se em torno de seis anos entre a descoberta e a operação, hoje nós já estamos em quase 18 anos, são três vezes mais. Claro que o contexto é outro, porque há mais dificuldades de financiamento, licenciamento e outras com as quais temos que saber conviver e endereçar”.
Por fim, ele chamou atenção para que os produtores adotem uma cultura de sustentabilidade em seu planejamento estratégico, sob o risco de não conseguirem a licença para operar. “As operações mineiras são finitas e para continuar trabalhando temos que saber otimizar os nossos planos de mina, trabalhar nas questões de reserva, disposição de rejeito, cada vez mais um desafio, e o fechamento de mina. E pensar no crescimento, seja ele orgânico ou inorgânico, o que requer trabalhos de exploração”.
O Painel 1, que teve como tema “Novo boom do ouro – oportunidades para investimento do mercado financeiro nacional”, contou com a moderação de Camilo Farace (conselheiro de Brasil Mineral), tendo como debatedores Kleber Cardoso (CFO da Aura Minerals), Leonardo Gandara (Head Legal das operações da Equinox Gold no Brasil) e Ricardo Fonseca (Sócio operacional de mineração da Prisma Capital).
Abrindo o painel, Camilo Farace lembrou que tenha a oitava potencialidade em termos de produção de ouro, o Brasil coloca-se atualmente em 15º. lugar entre os países produtores, apesar de ser a quinta potência em extensão territorial. Em razão disso, há um grande potencial ainda a ser explorado, em sua opinião.
Kleber Cardoso, da Aura Minerals, informou que a empresa fez o IPO na B3 em 2020 e depois acessou o mercado de capitais brasileiro duas vezes desde então, através do lançamento de debêntures. Ele disse, também, que o acionista brasileiro, assim como o americano, canadense e europeu, busca antes de tudo a qualidade dos ativos. Querem saber há quanto tempo a empresa está operando, se está gerando caixa e está cumprindo o que foi prometido. E disse que o mercado brasileiro precisa ter mais casos como o da Aura Minerals. O executivo da Aura afirmou, ainda, que as empresas devem olhar mais para o custo do que para os preços.
Ricardo Fonseca, da Prisma, afirmou que, antes de se pensar em atrair capitais para o ouro, é preciso trazer para a mineração, independente das commodities. “Hoje o ouro está na moda, amanhã é o minério de ferro, as terras raras, mas tudo é mineração”, disse, mencionando o trabalho que vem sendo feito pelo Invest Mining no sentido de atrair mais capitais para a mineração. Em sua opinião, é preciso fazer um trabalho de educação do investidor brasileiro, mostrando o que é um Estudo de Viabilidade, como é o licenciamento etc. E desejou que logo os empreendedores da mineração não precisem ir a Toronto para levantar capital. Ele acrescentou que os investidores preferem investir diretamente no metal ao invés de apostar em ativos de produção de ouro.
Leonardo Gandara, da Equinox Gold, disse que é importante olhar para as questões legais, de financiamento e compliance. Ele considera a jurisdição brasileira amigável do ponto de vista da mineração, embora haja quem pensa o contrário. Para Gandara, o investidor brasileiro ainda é muito avesso a risco, porque ainda existe no País uma cultura “muito agrária”. E que há dificuldades de financiamento. “As oito mil empresas de mineração brasileiras não conseguem acessar capital”. Contrariando opiniões vigentes, ele disse que o licenciamento ambiental tem sido o grande vilão quando se fala de tempo e custo para o investimento na atividade de mineração. Porém, observa que quando se segue as regras, as coisas não são bem assim, mencionando o exemplo da consulta livre, prévia e informadas das comunidades. “É preciso entender que as pessoas nem sempre têm que gostar de você”, afirmou, acrescentando que a questão é saber como convencer essas pessoas a estabelecerem parcerias. O ideal, em sua opinião, é que houvesse um sistema de licença social estruturado.
O segundo painel, sob a moderação de Hélcio Guerra, teve como tema “Projetos no Brasil – Estruturação dos Projetos, como entrar no negócio e quais os riscos associados” e contou, como debatedores, com a participação de Eduardo de Come (Ero Brasil Xavantina), Eduardo Leão (Brazauro-GMining), Paulo Misk (Jangada Mines) e Rodrigo Nunes (Auriverde Mining), que apresentaram os desafios para se construir bons projetos de ouro no Brasil e os caminhos que suas empresas trilharam para obter sucesso. A conclusão principal do painel foi no sentido de que o Brasil tem vocação mais para projetos de médio porte, o que é algo de certa forma favorável no ciclo de alta do ouro, porque os empreendimentos podem ser implantados mais rapidamente e começar a gerar caixa.
Já o terceiro e último painel focou “Governança e Rastreabilidade”, um tema muito atual, tendo em vista a proliferação de frentes de extração do metal de forma ilegal, sobretudo em territórios indígenas. Sob a moderação de Adriano Trindade (Mattos Filho e Brasil Mineral) o painel contou, atuando como debatedores, com Ewerton Trindade (AngloGold Ashanti), Frederico Bedran (conselho Brasil Mineral) e Vasco Miguel Ferreira Soares (Pharos Consultoria). Tanto o moderador quanto os debatedores foram enfáticos no sentido de que a rastreabilidade do ouro produzido é fundamental, principalmente para os médios e pequenos produtores, que têm mais dificuldade em implementar um sistema de governança. Para eles, é preciso ter a capacidade de agregar todos os dados relevantes de um produto e conseguir fazer essa verificação em qualquer ponto da cadeia e não apenas do lingote e do bullion.
O seminário contou com o patrocínio da MID e Tracbel (categoria master), AngloGold Ashanti, Auriverde Mining, Equinox Gold, Kinross e MovAG (categoria ouro), Metso, Codeme, DMT, Fagundes, Parex e PH (categoria prata).
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