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Carajás - riqueza concentrada e desenvolvimento truncado

Por evando
Carajás - riqueza concentrada e desenvolvimento truncado

1 - INTRODUÇÃO – o contexto

A exploração econômica de regiões com abundância de recursos naturais acompanha a evolução das civilizações, bem como molda a dinâmica de uso e ocupação do território. Com o advento da globalização, a mineração se tornou uma atividade econômica de destaque, provocando uma dinâmica social e econômica intensa em regiões remotas, bem como o aumento da migração de milhares de famílias em busca de uma vida melhor. Esse foi o caso da exploração das minas de Carajás.

A Região de Integração de Carajás (RI-Carajás), formada por 11 municípios (Fig. 1) em que quatro são mineradores (Marabá, Parauapebas, Curionópolis e Canaã dos Carajás), é um território rico em recursos minerais que atraiu grande movimento migratório, desde a descoberta do ferro, no final dos anos 1960 pela Companhia Meridional de Pesquisas Minerais subsidiária da United States Steel, com destaque do geólogo Breno Augusto dos Santos, a quem é atribuída a descoberta.

A então Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) adquiriu a titularidade das jazidas e, nos 1970, iniciou um processo de diversificação e expansão, se transformando em uma gigante exportadora de minério de ferro, com 16% do comércio mundial em 1985 (Fig.2).

No início de 1985, ocorreu o primeiro embarque de 11,6 milhões de toneladas (Mt) de minério de ferro, finalizando assim a fase de implantação e início das operações. No pico das obras, em 1982, o projeto contabilizou 27.483 pessoas contratadas; e, no final do ano de 1986, a empresa já trabalhava com capacidade de 20 Mt. Destaque-se também as infraestruturas em Marabá e Açailândia para o funcionamento do Trem. (Portoma, 2015).

A efetiva implantação da Estrada de Ferro Carajás, inaugurada em 1985, com uma extensão de 890 km, conectando as minas do sul do Pará ao terminal marítimo de Ponta da Madeira, em São Luís (MA), foi uma infraestrutura crítica tanto para assegurar a logística das exportações como para ampliar investimentos na região.

Nos anos de 1990, a Vale concentrou suas operações no minério de ferro, com recordes de 35 Mt, impulsionando o aumento do Terminal Marítimo de Ponta da Madeira, com a inauguração do seu segundo Píer (Portoma, 2015). Em 1994, ocorreu a emancipação de Canaã dos Carajás e 1998, a de Parauapebas de Marabá, maiores municípios mineradores da região.

Em julho de 1995, o governo de Fernando Henrique Cardoso anunciou o Plano Nacional de Desestatização (PNAD), com o objetivo de reduzir a dívida pública da época. No PNAD constava a CVRD, que foi privatizada em 06 de maio de 1997 ao Consórcio Brasil, que pagou R$ 3,34 bilhões, com ágio de 19,99% sobre o preço mínimo estabelecido pelo BNDES (Coelho, 2014).

Nos anos 2000, a Vale aumentou sua estratégia de produção, com inclusão de diferentes metais. No ano de 2004, iniciou-se a exploração de cobre na região de Canaã dos Carajás, na Mina do Sossego, gerando uma movimentação de 28 milhões de toneladas. Em 2005, já havia registros de vendas para 13 clientes em 11 países, ultrapassando a barreira de 100 mil toneladas de concentrado de cobre. (Portoma, 2015).

Essa dinâmica produtiva teve rebatimentos econômicos importantes e não ocorreu de forma isenta de polêmicas socioambientais, em função dos impactos gerados na floresta amazônica e consequente pressão sobre comunidades originarias (indígenas, quilombolas e ribeirinhos) (Vargas, [s.d]).

2. DESEMPENHO ECONÔMICO

Se avaliada apenas pelos indicadores econômicos, a atividade de extração mineral na RI-Carajás ao longo dos últimos 40 anos é considerada um sucesso, com base na contribuição ao PIB local, aumento da renda, incremento das receitas públicas e aumento da infraestrutura.

Considerando-se o período de 2002 a 2021, o PIB dos municípios mineradores da RI-Carajás apresentou crescimento médio anual de 22%, muito superior ao dos municípios não mineradores, que apresentaram uma média anual de 12% (Fig.3).

A renda indica o poder de compra de um indivíduo e o valor das horas trabalhadas, e esse valor é o que deve garantir a sua subsistência. No ano de 2024, os municípios mineradores da RI-Carajás registraram remuneração média quase 30% superior à média do estado do Pará e quase 60% superior à média de municípios não mineradores (Tabela 1).

A renda dos municípios mineradores da RI-Carajás está associada ao perfil do emprego, muito mais vinculado à indústria, à construção civil e aos serviços que, via de regra, oferecem salário maior. O exemplo de Parauapebas é ilustrativo: tanto em 2020, como em 2025, a participação dos empregos na indústria local é praticamente o dobro da média estadual, e o inverso ocorre com a participação dos empregos no setor público – 7% em Parauapebas e 13% na média estadual (Fig 4).

Veja a matéria completa na edição 450 de Brasil Mineral

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