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Geopolítica, tecnologias e transição energética são os desafios da mineração

Por evando
Geopolítica, tecnologias e transição energética são os desafios da mineração

Estudo da Deloitte destaca os desafios da mineração, incluindo geopolítica, novas tecnologias, transição energética e a necessidade de adaptação à reforma tributária no Brasil.

A 17ª edição do estudo anual "Tracking the Trends 2025", realizado pela Deloitte, mostra que a indústria mundial de mineração e metais passa por um cenário de reconfiguração e o setor é impactado por incertezas geopolíticas, pelo aparecimento de novas tecnologias, pela transição energética e necessidade de redefinir a produtividade e a excelência operacional. Além desses fatores, as mineradoras que atuam no Brasil também terão de lidar com as mudanças trazidas pela reforma tributária.

Para os próximos anos, as mineradoras tem como desafios a formação de ecossistemas de negócios para cadeias de suprimentos de minerais críticos e uma gestão ativa e mais assertiva do portfólio de produtos e projetos. Na área tecnológica é necessária a integração de inteligência artificial na exploração mineral, a transformação digital com sistemas ERP de próxima geração (propiciando maior flexibilidade, agilidade e integração com outras tecnologias), a implementação de operações inteligentes, aproveitando a convergência de automação, inteligência artificial, conectividade e cyber segurança, e a preparação da força de trabalho para a era da inteligência artificial e seus agentes, que têm o potencial de acelerar a formação de profissionais, padronizar processos e estreitar o gap entre gerações. Uma das principais tendências é a reconfiguração da liderança para essa nova era da mineração e siderurgia, que demanda uma liderança adaptável, estratégica, com competência cultural, que equilibre resultados com visão de longo prazo, produtividade com bem-estar no ambiente corporativo, abrace a mudança tecnológica e promova a colaboração. "A capacidade de uma organização se adaptar a um ambiente de incertezas geopolíticas e demandas crescentes por minerais críticos, ao mesmo tempo em que avança em direção a metas de descarbonização, exige uma liderança que seja não apenas tecnologicamente curiosa, mas também profundamente engajada com o bem-estar de sua força de trabalho e com as comunidades", afirma Patricia Muricy, sócia-líder da Indústria de Mineração da Deloitte.

O estudo aponta ainda a formação de ecossistemas de negócios voltados às alianças para garantir o fornecimento de minerais essenciais à transição energética. A corrida global por minerais críticos, impulsionada pela transição energética e pela corrida pela supremacia tecnológica, está redefinindo as cadeias de suprimentos e, com isso, a dinâmica no setor. “Essa busca está intrinsecamente ligada à necessidade de as mineradoras incorporarem tecnologias avançadas em suas operações. Por isso, observamos um movimento de formação de parcerias com empresas especializadas em tecnologia para acesso a expertise de ponta e construção de cadeias de suprimentos mais ágeis e resilientes”, explica Patricia. As aplicações de inteligência artificial continuam em alta e as novas versões de sistemas de Planejamento de Recursos Empresariais (ERP) podem ser o backbone e ferramentas essenciais para mineradoras que buscam aprimorar sua produtividade e eficiência de custos, graças às análises impulsionadas por inteligência artificial, a melhoria na qualidade dos dados e às possibilidades de conexão mais fluida e dinâmica com outros sistemas. Para aumentar a produção, as empresas do setor mineral deverão buscar operações inteligentes, o que demanda estratégia objetiva, o questionamento de abordagens de design tradicionais, formas de trabalho mais integradas, melhor convergência entre TI (Tecnologia da Informação) e TO (Tecnologia Operacional) e gestão de dados centralizada. “As operações inteligentes, que combinam transformações digitais, de processos e de talentos, geram eficiências integradas que superam em muito o investimento inicial”, afirma Patricia Muricy.

As novas tecnologias também exigirão que as mineradoras desenvolvam planejamentos de requalificação, capacitação dos trabalhadores para a automação e a transformação de tarefas. Com a utilização da Inteligência Artificial para aumentar a produtividade e a segurança, os trabalhadores serão direcionados para outras atividades de maior valor. A forma como os líderes utilizam os dados de suas organizações para preparar a força de trabalho para essa mudança e priorizam os esforços de requalificação pode ser uma vantagem competitiva. Para isso é necessário ter visão de futuro e domínio sobre como as novas tecnologias podem mudar as operações. As tensões e conflitos geopolíticos tem afetado o mercado como um todo, além da cadeia de suprimentos e o comércio. Nos últimos 15 anos, os controles de exportação sobre minerais críticos aumentaram em cinco vezes, num cenário de concorrência crescente. Será fundamental que as organizações desenvolvam a capacidade da gestão ativa de portfólio, com avaliações regulares de ativos, custo e cenários, considerando o contexto global. Essa gestão envolve ainda aproveitar as oportunidades de cenários futuros, atualizar a estratégia empresarial e o posicionamento competitivo, explorar opções de mercado e alocar capital de forma prudente.

O estudo da Deloitte aponta o avanço rumo ao carbono neutro, pois poderá depender de diversos fatores como acesso a financiamento, aplicabilidade das tecnologias, criação de novos modelos de negócios para aumentar a agilidade, resiliência, e melhorar a retenção de talentos pela ênfase no papel da mineração na sustentabilidade. “Praticamente todas as mineradoras têm metas ambiciosas em relação a descarbonização da sua própria operação, escopos 1 e 2, e da cadeia. O caminho para atingimento dessas metas, porém, ainda dependem de muita pesquisa em novas tecnologias e de parcerias com OEMs, fornecedores e clientes”, analisa Patricia, sócia-líder da Indústria de Mineração da Deloitte. A indústria de mineração e metais tem investido em boas práticas de sustentabilidade. Contudo, uma abordagem mais direcionada, com iniciativas pautadas no potencial de geração de valor, pode simplificar e acelerar a integração do ESG nas estratégias de negócios das empresas do setor. Alguns exemplos são a ampliação de utilização de energia renovável e os investimentos em comunidades em que as atividades se desenvolvem para deixar um legado que transcenda o ciclo de extração. “A relação da mineração com o meio ambiente é intrínseca e a adoção de práticas positivas para a natureza, as chamadas ‘nature positive’, não é apenas uma questão de responsabilidade, mas também uma oportunidade de negócios. A integração bem-sucedida da natureza nos modelos operacionais exigirá financiamento adequado, liderança forte, avaliação das questões ambientais nas decisões e o tratamento de dados relacionados ao meio ambiente da mesma forma que os financeiros”, argumenta Patricia Muricy.

A reforma tributária brasileira apresenta mudanças significativas na tributação do setor de mineração, alterando o cenário operacional e estratégico das empresas. As empresas terão uma alíquota de 0,25% aplicada sobre todos os recursos minerais extraídos, representando um custo adicional direto que deverá refletir no preço final dos insumos minerais. O aumento de custo deverá ser propagado por toda a cadeia de valor, impactando as indústrias que utilizam esses recursos. Outra alteração da reforma é o término gradual dos incentivos fiscais estaduais. Muitas empresas da cadeia de suprimentos da mineração, como fabricantes de aço e alumínio, instalaram suas plantas em estados que ofereciam benefícios fiscais. A partir de 2029, esses incentivos começarão a ser reduzidos progressivamente, sendo completamente eliminados em 2033. Essa mudança poderá trazer uma reavaliação da estratégia de localização e da malha logística das empresas, uma vez que a arrecadação dos novos tributos passará a ser no destino, e não mais na origem.

O período de transição da reforma, que se estende de 2026 a 2033, apresenta uma fase particularmente desafiadora. As empresas estarão submetidas a um sistema duplo de tributação, calculando simultaneamente o ICMS/ISS e o novo IBS, o que aumenta a complexidade operacional. "A necessidade de conformidade tributária ampliada exigirá ajustes em processos, nos sistemas, no dimensionamento das equipes e na revisão dos fluxos de trabalho. É importante que as mineradoras se preparem, fazendo a revisão de suas operações, estratégias e gestão de custos, com impactos em toda a sua estrutura organizacional. Paralelamente a isso, abre-se uma grande oportunidade para as mineradoras reverem as suas estruturas societárias", conclui a especialista da Deloitte.

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