Fase 2 – Metais básicos em Carajás – o exploracionista no lugar certo
A equipe de geólogos da Vale identificou que as Formações Ferríferas Bandadas (BIFs, na sigla em inglês), de Carajás, que hospedam gigantescos corpos de minério de ferro de alto teor na região de Carajás, estavam encaixadas em uma sequência de lavas basálticas levemente metamorfisadas. A origem das BIFs foi tema de um conhecido debate entre o professor Aluízio Licínio M. Barbosa e o geólogo Édson F. Suszczynski. Barbosa, por analogia com os itabiritos do Grupo Minas, defendia uma origem sedimentar química para os depósitos. Já Suszczynski propunha um modelo exótico, de origem inteiramente vulcânica para as BIFs. A realidade é que, à época, conhecia-se muito pouco sobre o ambiente geológico da região de Carajás. Vale lembrar que a própria conceituação formal da geologia de terrenos greenstone belts só foi consolidada em 1969, com o trabalho seminal de Anhaeusser e colaboradores no Craton do Kaapvaal, publicado no GSA Bulletin (vol. 80, n.º 11, pp. 2175–2200).
Os ambientes geológicos que concentram as maiores reservas de minério de ferro do mundo, como Hamersley (Austrália), Transvaal (África do Sul), Quadrilátero Ferrífero (Brasil) e Labrador Trough (Canadá), não estão associados à ocorrência de metais básicos. A Vale do Rio Doce em Carajás, não fez uma avaliação conceitual prévia para subsidiar o desenvolvimento de um programa exploratório voltado a metais básicos. Os levantamentos exploratórios foram delimitados pelos limites dos alvarás de pesquisa para minério de ferro, e só posteriormente foram repassadas à Docegeo, que então estruturou um programa voltado à prospecção de metais básicos. Pode-se afirmar que prevaleceu uma visão gerencial altamente pragmática, que se revelou, com o tempo, extraordinariamente bem-sucedida — resultando na descoberta de importantes depósitos de cobre, ouro, níquel e elementos do grupo da platina (PGM), alguns de classe mundial. Um caso emblemático no qual o gerenciamento colocou o exploracionista no lugar certo.
O primeiro depósito de sulfetos de metais básicos identificado em Carajás foi descoberto por meio de estudos geoquímicos e denominado corpo C4, ou Pojuca, com reservas estimadas em 58 Mt @ 0,87% Cu, 0,90% Zn. A descoberta foi realizada pelo geólogo Vanderlei de Rui Beisiegel, que atribuiu ao depósito uma origem vulcanogênica. Em geral, quando uma área é alvo de um programa exploratório sistemático, a primeira descoberta tende a apresentar os maiores volumes e teores. No caso de Carajás, porém, isso não se confirmou.
O levantamento de sedimento de corrente conduzido pelo geólogo Décio Meyer (vulgo "Alemão"), mesmo sem apoio de um modelo geológico específico, foi fundamental para a descoberta de diversos depósitos de cobre e ouro (Cu-Au) que mais tarde viriam a ser identificados na Província Mineral de Carajás. Em 1976, o técnico em mineração Willame coletou uma amostra de sedimento de corrente no Igarapé Cigarra, uma grota inexpressiva, que revelou alto teor. No entanto, o fator decisivo para a descoberta do depósito Salobo foi a realização de dois perfis de solo cruzando a serra, que apresentaram teores de até 3000 ppm de Cu. Esse foi o primeiro passo para a identificação de um dos maiores depósitos de cobre-ouro do mundo: Salobo, com 1,112 bilhões de toneladas @ 0,69% Cu e 0,43 g/t Au. O levantamento regional de sedimento de corrente era frequentemente acompanhado por amostragens de solo em perfis transversais às cristas topográficas, quando estas estavam presentes. Foi o que ocorreu na região do Salobo, onde uma crista de “quartzito” marcava uma zona de falha e, ao mesmo tempo, controlava o corpo mineralizado.
Décio Meyer recebeu quatro locações para sondagem. Em uma delas, o furo atravessou inteiramente um corpo de diabásio, e a mineralização de cobre não foi inicialmente reconhecida. Dias depois, no entanto, o geólogo João Carlos Rigon identificou a presença de calcosita, confirmando a mineralização. O depósito foi classificado como vulcanogênico (VMS), assim como o depósito de Pojuca (Corpo 4), mas hoje é considerado o segundo maior corpo do tipo IOCG (Iron Oxide Copper-Gold) do mundo. A Docegeo passaria décadas dedicada à verificação das anomalias de cobre identificadas no "levantamento de sedimentos de corrente do Décio", descobrindo vários depósitos como Igarapé Bahia, Furnas, Paulo Afonso, 118, Gameleira, Cristalino. O levantamento citado foi um marco na exploração mineral brasileira.
Veja a matéria completa na edição 450 de Brasil Mineral
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