
A Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) informa que, após análise preliminar da nova Ordem Executiva publicada pelo governo dos Estados Unidos (com força de decreto presidencial), a nova tarifa recíproca não será cumulativa à alíquota de 50% vigente desde junho, imposta com base na Seção 232. O documento determina uma lista de produtos isentos de ambas as medidas, entre os quais se destaca a alumina, insumo essencial para a produção de alumínio primário e outras aplicações industriais. Entretanto, ficaram de fora das exceções, e, portanto, estarão também sujeitas à sobretaxa, as exportações de bauxita, hidróxido de alumínio, e cimento aluminoso. A decisão é um alívio parcial para o setor, mesmo que os impactos diretos das medidas já sejam expressivos. Em 2024, os Estados Unidos foram o terceiro principal destino das exportações da indústria brasileira de alumínio, atrás apenas de Canadá e Noruega, respondendo por 14,2% das vendas externas do setor, o equivalente a US$ 773 milhões (cerca de R$ 4,2 bilhões). Estima-se que cerca de um terço desse total esteja atualmente sujeito à sobretaxa de 50%, o que tornará inviável o acesso de vários produtos ao mercado americano.
No primeiro semestre de 2025, as exportações brasileiras de produtos de alumínio sujeitas à Seção 232 caíram 28% em comparação com o mesmo período de 2024 – uma perda de US$ 46 milhões (R$ 350 milhões), já sob impacto das tarifas anteriores de 10% (vigentes até 12 de março) e de 25% (entre 12 de março e 3 de junho). Com a elevação para 50% da Seção 232 e ampliação do escopo tarifário da lista recíproca, os prejuízos totais ao setor poderão alcançar US$ 210 milhões (mais de R$ 1,15 bilhão), considerando os efeitos diretos já contabilizados e as estimativas para até o final do ano. Mesmo com a exclusão da alumina das tarifas, a ABAL alerta sobre os efeitos indiretos relevantes para toda a cadeia de suprimento. Em 2024, o Brasil exportou cerca de 1,3 milhão de toneladas de alumina para os Estados Unidos, volume utilizado na produção de aproximadamente 90% do alumínio primário americano. O insumo também é exportado ao Canadá, responsável por 64% da transformação do alumínio primário canadense — metal que, por sua vez, abastece uma parcela importante da demanda industrial dos EUA.
Além dos impactos diretos sobre etapas específicas, a ABAL chama atenção para efeitos colaterais mais amplos, que já estão se desenhando no mercado global. O escalonamento tarifário tem pressionado os preços internacionais do alumínio, gerando incertezas que podem ampliar a volatilidade macroeconômica e precipitar uma desaceleração global motivada pela instabilidade comercial — com impactos sobre produção, investimentos e consumo. As alterações na dinâmica de arbitragem geradas pela tarifa de 50% sobre o alumínio primário, que têm tornado os preços da sucata de alumínio mais competitivos, impulsionando uma disputa global por esse insumo. Essa corrida por sucata vem acendendo alertas sobre o risco de escassez de metal proveniente de material pós-consumo, especialmente em regiões como a União Europeia e o Brasil, onde o alumínio reciclado é uma fonte estratégica para a transição energética e pilar da economia circular.
A ABAL reforça a importância de que o debate em torno dos impactos das medidas tarifárias e da definição de um plano de mitigação não se restrinja a uma análise pontual ou exclusivamente comercial. É importante considerar a relevância estratégica de setores integrados às transições energética, econômica e industrial — como o alumínio — e construir soluções que fortaleçam as vantagens competitivas e a resiliência das cadeias produtivas, buscando oportunidades de fortalecer as relações de complementaridade entre países parceiros, preservando o equilíbrio, a previsibilidade e o desenvolvimento sustentável das relações comerciais globais.
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