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Para a Pilbara (PLS), Salinas poderá ser um dos dez maiores produtores de lítio do mundo

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Para a Pilbara (PLS), Salinas poderá ser um dos dez maiores produtores de lítio do mundo

É o que afirma o CEO da empresa, Dale Henderson, em entrevista a Brasil Mineral.

Por Francisco Alves

Quando estiver em produção, a operação de Salinas, Minas Gerais, onde a PLS (Pilbara Minerals) detém o projeto Colina, poderá se tornar um dos dez maiores supridores de lítio do mundo. É o que afirma o CEO da PLS, Dale Henderson, que esteve no Brasil recentemente visitando a região do projeto e estabelecendo contatos com autoridades.

A razão para Salinas poder ser uma das 10 maiores operações de lítio do mundo, na opinião do executivo, “é a alta qualidade do depósito, tanto em termos de escala quanto do teor de lítio. Estas razões suportam a possibilidade de uma operação com escala de produção e uma longa vida útil. Por estas razões, pode se comparar a algumas das maiores operações de lítio globalmente”.

Ele afirma que atualmente a empresa está realizando trabalhos de sondagem para maior conhecimento do corpo de minério do projeto Colina e paralelamente iniciando os estudos de engenharia visando ao seu desenvolvimento, mas ainda não tem prazo estabelecido para a implantação do empreendimento, nem o montante de investimentos previstos.

Para aquisição da Latin Resources, que controlava várias áreas de lítio em Salinas, a PLS desembolsou US$ 370 milhões, numa transação finalizada em fevereiro deste ano.

Em entrevista concedida a Brasil Mineral, Dale Henderson afirma que a perspectiva é que o mercado do lítio, que enfrenta uma fase de preços baixos, caminhe para a recuperação, tendo em vista o aumento de consumo previsto para os próximos anos.

Ele também diz que a PLS, que está avançando na cadeia de produção do lítio, para a produção de químicos, poderá eventualmente verticalizar sua produção também no Brasil, se houver condições para isso. Confira.

BRASIL MINERAL -- Como a empresa está atualmente posicionada no mercado de lítio?

DALE HENDERSON -- A PLS é uma grande produtora de lítio globalmente. Na verdade, somos a maior operadora independente de rocha dura globalmente. O posicionamento da nossa empresa na indústria é caracterizado por termos escala em toda a indústria, sendo um dos principais fornecedores, e temos cuidado da diversificação do nosso ativo australiano, e agora no Brasil, com a aquisição da Latin Resources, sendo nossa primeira aquisição internacional, a qual estamos muito satisfeitos por ter concluído. Mas, separadamente da nossa estratégia de mineração upstream, também estamos envolvidos na produção de produtos químicos. Temos uma joint venture em uma instalação de produtos químicos de hidróxido na Coreia do Sul com a Posco, denominada PIlbara Litihium Solutions. Essa instalação está em fase de ramp up atualmente e está indo muito bem.

Além disso, também estamos iniciando estudos downstream com um dos maiores grupos químicos globalmente, com o propósito de progredir com outra instalação química em algum lugar do mundo. Além disso, temos nosso próprio processo químico que estamos desenvolvendo, chamado Midstream, e temos uma planta de demonstração, que estamos construindo na Austrália no momento. Todos esses itens são parte da nossa estratégia química. Então, fora do lado upstream, no Brasil e Austrália, produtos químicos, o foco da nossa empresa é nos prepararmos para expandir nossa posição conforme o ciclo avança, e o mercado de lítio continua a crescer. Acho que estamos em uma posição realmente forte para isso.

BRASIL MINERAL – Por que a empresa escolheu o Brasil?

DALE - Fico feliz por ter perguntado. À medida que nossa empresa amadureceu e estávamos em posição de considerar fusões e aquisições, olhamos globalmente para as oportunidades, incluindo a conclusão de várias visitas a diferentes partes do globo. Isso ocorreu antes de explorarmos o Brasil mais profundamente. Fomos atraídos pelo Brasil porque é atraente em várias frentes globalmente. Primeiro, é uma jurisdição de mineração de Nível 1 e Minas Gerais, em particular, é um distrito de mineração muito maduro, com um profundo histórico de operações de mineração profissional. Somos atraídos por isso. Também somos atraídos pelo histórico estabelecido de operações de lítio, em particular a Sigma, que está em Minas Gerais e tem uma operação de lítio muito bem-sucedida. Então, a jurisdição era atraente. O apoio do governo também é muito atrativo. E o projeto em si. É um ativo de lítio de rocha dura de alta qualidade, que mostra promessa de poder se expandir ainda mais. E mais uma vez, a equipe que trouxe o projeto até aqui é um grupo fantástico. Ficamos muito atraídos pela parceria, e em particular por causa do trabalho que eles realizaram com a comunidade local. Então, a soma dessas coisas, a jurisdição, o suporte do governo, o ativo, a equipe, tudo isso se uniu. Estamos felizes em unir forças sob nosso novo nome, PLS, que escolhemos para coincidir com a conclusão desta transação.

BRASIL MINERAL - Qual é a avaliação da empresa sobre o mercado atual de lítio? Como vê as perspectivas de recuperação dos preços e em que prazo isso pode ocorrer? Outra questão: Donald Trump acaba de aprovar a recomendação para acelerar a mineração nos Estados Unidos. O que isso pode representar para o mercado?

DALE - O mercado de lítio tem sido altamente volátil em função de uma indústria muito pequena crescendo muito rapidamente. Por causa disso, vimos preços muito altos, seguidos rapidamente por preços muito baixos e preços altos novamente. Atualmente, o preço está muito baixo e estamos passando por um ponto de baixa no ciclo. O preço está em um nível em que quase todas as operadoras estão perdendo dinheiro hoje. Isso é aparente através dos lançamentos de mercado pelos principais grupos de lítio globalmente. Portanto, achamos que o preço tem que aumentar, porque isso é insustentável. Mas, além disso, a demanda por lítio está aumentando fortemente e há muitas evidências disso. No ano passado, o crescimento de veículos elétricos foi o mais forte de todos os tempos, de 2023 a 2024, mais de 20% de crescimento. O armazenamento de energia em massa teve um aumento de mais de 50% do ano civil de 2023 para 2024. Ao entrarmos neste ano civil (2025), os dados também são fortes. Em janeiro e fevereiro, as vendas de veículos elétricos globalmente quebraram recordes. Vemos a demanda continuando a crescer. Acreditamos que as perspectivas de longo prazo da indústria são muito positivas, principalmente quando consideramos que a produção e adoção de veículos elétricos globalmente ainda é relativamente pequena, e o armazenamento de energia em massa, sendo um uso fundamental do lítio também, está apenas começando, em robótica, drones e armazenamento de energia para IA.

Esses são todos novos usos de demanda para baterias de lítio. Então achamos que as perspectivas de longo prazo para a indústria são muito brilhantes. Para nossa empresa, não somos afetados no ciclo de baixa, porque configuramos nossos negócios de forma que possamos navegar neste período, cuidar de um balanço patrimonial forte, uma posição de baixo custo operacional, além de parcerias muito fortes e para quem vendemos globalmente, que são, em nossa opinião, os melhores no negócio.

Com relação à questão do presidente Trump, a nova administração nos EUA está fazendo mudanças radicais no que se refere às suas buscas de minerais essenciais. Em termos de impacto para nossos negócios, o que nos dá confiança é que somos um operador muito competitivo no cenário global, e a competição é tudo o que já conhecemos. E parte do que orientou nossas decisões tem sido garantir que continuemos a ser mais fortes como um concorrente global, por ser um grande operador de processamento e nos mover para a esquerda da curva de custos. E no ano passado, na Austrália, concluímos um investimento em uma série de soluções de infraestrutura muito sensatas que nos tornam mais competitivos, com menor custo de energia, menor custo de britagem, uma operação expandida, fazendo nossa própria mineração enquanto continuamos a melhorar em ser uma operadora de baixo custo.

E quando pensamos em nos mudar para o Brasil, as boas notícias são, e faz parte da atração, que esta é uma jurisdição de baixo custo, cuidando da indústria de mineração madura, da expertise que está aqui, e do cenário federal e estadual muito favorável para empresas como a nossa desenvolverem e operarem um projeto de mineração. Então, por essas razões, sentimos que qualquer competição que surja, seja nos EUA ou em outro lugar, estaremos bem-posicionados para enfrentar esse desafio.

BRASIL MINERAL – Qual o destino que será dado à produção da empresa em Minas Gerais?

DALE - A indústria de materiais de bateria está crescendo rapidamente, mas onde ela existe hoje é principalmente na China, com algum processamento na Coreia e no Japão, mas em grande parte na China. Fora isso, há novas plantas de baterias sendo construídas globalmente. Para o lítio de Minas Gerais, temos a oportunidade de decidir para onde essa produção de lítio deve ir. Esta foi uma oportunidade fantástica para nós trabalharmos e considerarmos para onde no mundo essa produção de lítio deveria viajar e, com base na experiência da PLS na indústria, temos um ótimo entendimento de com quem poderíamos fazer parceria hoje e potencialmente com quem poderíamos fazer parceria no futuro para canalizar esse fornecimento de lítio.

BRASI MINERAL - Há muitos projetos de lítio sendo implementados hoje no mundo. Há risco de super-oferta ou, em sua opinião, a demanda dará suporte a todos esses projetos?

DALE - Minha observação do mercado de lítio é de uma pequena indústria, crescendo muito. Vimos esse ciclo, que é muito normal na mineração, mas é particularmente exacerbado no lítio com máximas muito altas, mínimas muito baixas. Os pontos altos do ciclo alimentam uma resposta de oferta e, nessa resposta de oferta, às vezes, operações de custo mais baixo e mais alto. E a alta oferta precipita preços mais baixos. Então há uma contração na oferta e o ciclo se repete. Acho que é isso que estamos testemunhando se desenrolar novamente. E acreditamos que estamos em uma parte baixa do ciclo de preços. Mas para nossa empresa, isso não nos incomoda, porque sabemos que somos um produtor de baixo custo entre a oferta global, o que significa que podemos navegar por esses ciclos inevitáveis ​​e continuar a expandir nossos negócios ao longo do tempo, diligentemente, em sintonia com o mercado.

BRASIL MINERAL - Apesar de um preço baixo, a PLS teve resultados positivos em 2024. Por outro lado, a empresa decidiu colocar uma operação em cuidados e manutenção. A decisão foi motivada por altos custos de produção, uma estratégia para reduzir a oferta, ou ambos?

DALE - Ótima pergunta. Nossa operação base tem duas plantas de processamento, uma das quais tem custo mais alto. Essa planta de processamento de alto custo foi de uma aquisição de uma operação vizinha há vários anos. Temos executado ambas as operações, pois os preços estavam mais altos, mas como os preços caíram, tomamos a decisão de desligar a operação de custo mais alto. A razão pela qual fizemos isso foi em função de preservação de caixa e o fato de que os preços continuaram baixos. A boa notícia é que a capacidade de processamento pode ser colocada online muito rapidamente, quando as condições de mercado derem suporte. Portanto, o principal motivo foi a preservação de caixa em função dos preços baixos.

BRASIL MINERAL - Quando a empresa deve iniciar a operação em Salinas?

DALE - Recentemente recebemos algumas aprovações ambientais, que estamos felizes em receber. Mas para sua pergunta sobre qual é o plano de entrega do projeto, o primeiro passo é realizar uma avaliação da entrega. E estamos nesse processo agora, tendo finalizado a transação seis a oito semanas atrás. Mas os principais objetivos são investir no aumento do conhecimento sobre o corpo de minério. Então, estamos começando a perfuração e iniciando mais engenharia com o propósito de refinar o plano de desenvolvimento para que possamos estar posicionados para desenvolver o projeto rapidamente, quando o mercado apoiar. Mas, como eu disse, as principais áreas de atividade são perfuração hoje, mais engenharia. Eu também acrescentaria que estamos continuando com investimento focado e discreto na comunidade e feliz em dizer que uma torre de comunicações foi erguida. Eu consegui visitar ontem. Parece incrível. E continuaremos a dar suporte a esses tipos de atividades também. Então, esses são os focos principais, por enquanto. O momento final para a decisão de investimento seguirá a conclusão dos estudos de engenharia e será cronometrado com o mercado.

BRASIL MINERAL - O governo brasileiro pretende que os produtores de lítio, não apenas lítio, mas de todos os minerais críticos no Brasil, tenham que avançar na escala de produção, produzindo não matérias-primas, mas também produtos químicos. A PLS pretende fazer isso no Brasil?

DALE - Paralelamente à nossa estratégia de desenvolvimento de mina, sim, realizaremos nossos estudos para explorar a possibilidade de fazer processamento químico no Brasil. Então, sim, exploraremos isso. Mas os estudos serão muito importantes para entender se é viável ou, mais importante, se um processamento químico pode ser competitivo no cenário global a longo prazo.

BRASIL MINERAL - O governo também pretende oferecer suporte financeiro para produtores por meio do BNDES. A PLS pretende solicitar esse suporte financeiro?

DALE - Iniciamos um engajamento com os governos federal e estadual. Devo acrescentar que a equipe aqui tem uma longa história de engajamento. E estamos encantados com o suporte e as discussões em torno de garantir que tenhamos um desenvolvimento e um negócio bem-sucedidos, incluindo discussões sobre suporte financeiro. Nossa equipe tem um histórico de engajamento com o BNDES, e estamos continuando essas discussões. Então, estamos muito positivos sobre o engajamento e o suporte que tivemos hoje.

BRASIL MINERAL – O senhor afirmou, no passado que a PLS, no Brasil, tem potencial para ser uma das maiores operações de lítio. O que sustenta essa afirmação?

DALE - Esta é uma boa questão. A razão para Salinas poder ser uma das 10 maiores operações de lítio do mundo é a alta qualidade do depósito, tanto em termos de escala quanto do teor de lítio. Estas razões suportam a possibilidade de uma operação com escala de produção e uma longa vida útil. Por estas razões, pode se comparar a algumas das maiores operações de lítio globalmente. E certamente adicionando essa operação às operações de escala já em operação assegura que a PLS no Brasil seja um dos maiores supridores de lítio, por muitos e muitos anos.

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