
Com a presença de quase 120 pessoas, representando empresas e entidades do setor mineral, da cadeia de suprimento da mineração, da produção de energias renováveis, de engenharia e consultoria, de escritórios de advocacia e do setor financeiro, dentre outros, foi realizado no dia 26 de março o evento “Descarbonização no contexto atual: oportunidades para o setor mineral?”, organizado por Brasil Mineral com a parceria do escritório Mattos Filho, da AP Consultoria e da Caputo, Bastos e Serra advogados.
Realizado no auditório da Mattos Filho, no coração financeiro de São Paulo, a Avenida Brigadeiro Faria Lima, o evento se iniciou com uma palestra de Wilson Brumer, membro do Conselho de Administração da Companhia Brasileira de Lítio, que abordou o tema “Contribuição da Cadeia Mineral para a Descarbonização da Economia”, em que ele colocou, como um dos seus principais questionamentos, o fato de que a descarbonização tem um custo, elevado, sendo preciso definir quem vai pagar a conta. Ele também salientou que a descarbonização é um processo que não é de curtíssimo prazo, que vai requerer grandes investimentos e mudanças comportamentais.
Após a palestra de Brumer foram realizados três painéis. O primeiro teve como tema “O mercado de carbono na estratégia do setor mineral” e contou com a moderação de Walter Froes, presidente e controlador do grupo CMU, uma das principais comercializadoras de energia no País. Como debatedores, o painel contou com Rômulo Sampaio (advogado do escritório Mattos Filho na área de consultivo e contencioso ambiental e de mudanças climáticas), Leandro Faria, gerente de Sustentabilidade e ESG da CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), Paulo Camillo Penna (presidente daAssociação Brasileira de Cimento Portland) e Rosane Santos (diretora de Sustentabilidade da Samarco).
Rômulo Sampaio lembrou que a indústria representa 5% das emissões brasileiras de carbono, sendo que o setor mineral tem uma participação de 32% nesse percentual da indústria. Ele também apontou que a faixa de regulação da legislação brasileira é bastante agressiva, já que as empresas que emitirem acima de 25 mil toneladas/ano serão obrigadas a adotar compromissos de redução. E que o setor mineral vai participar desse esforço.
Leandro Faria ressaltou que a CBA é um produtor de alumínio de baixíssimo carbono, com um índice de emissão menor do que a média global e que o alumínio produzido pela empresa pode ser um grande facilitador da transição energética. “A combinação da transição energética com alumínio de baixo carbono pode impulsionar a descarbonização”, afirmou.
Paulo Camillo Penna afirmou que a descarbonização é um tema central para a indústria do cimento, pois se trata deum setor fortemente intensivo em energia e o processo produtivo gera um nível de emissão bastante significativo. Para mitigar tais emissões, a indústria cimenteira desenvolveu, de 2015 a 2019, “o mais ambicioso programa de mitigação das emissões de carbono na indústria brasileira, que é o Roadmap da indústria de cimento”.
Rosane Santos, por sua vez, disse que um ponto importante a ser discutido é como se pode acelerar a introdução no Brasil do mercado de carbono, o que pode ser feito através da troca de experiência entre as empresas e a discussão de soluções, introdução de novas tecnologias. E que o evento foi uma oportunidade para essa troca e interação entre os diversos atores do setor.
O segundo painel, que discutiu o tema “Eficiência Energética”, teve a moderação de Mauro César Pereira, diretor da área de Energia da empresa de engenharia Afry Brasil e contou, na condição de debatedores, Edson Del Moro (Country Manager da Hochschild Mining), Rodrigo Amado (diretor de Novos Materiais e Aplicações da CBMM), Thales Oliveira (superintendente Comercial da Construtora Barbosa Mello) e Itamar Lessa (diretor da Comercializadora da Casa dos Ventos).
Mauro César Pereira disse que está claro para todos que a redução das emissões de gases de efeito estufa é uma necessidade premente. E a maior eficiência energética é um dos caminhos, para se conseguir essa redução. A indústria de mineração, segundo ele, tem que implementar melhorias energéticas em seu parque produtivo e aumentar o uso de energias renováveis.
Thales Oliveira expôs os compromissos da Barbosa Mello com a eficiência energética e promoção da descarbonização, não apenas para si própria, mas também para seus clientes. E o que se pode fazer para ampliar ainda mais essa atuação.
Rodrigo Amado explicou os programas que a CBMM está desenvolvendo para reduzir suas emissões e as novas tecnologias de aplicação do nióbio que podem contribuir para uma maior descarbonização, citando o caso a produção de aço com micro ligas de nióbio e o desenvolvimento de baterias que usam nióbio.
Itamar Lessa afirmou que eficiência energética não é apenas redução do consumo de eletricidade, mas sim estratégias que garantem o suprimento mais seguro, mais confiável e a implementação de processos que visam a redução além do megawatt/hora, das emissões de carbono.
Edson Del Moro, disse que a descarbonização não é apenas a ordem do dia, mas a ordem das necessidades. E que sua empresa procura seguir todas as prioridades definidas pela ONU, focada na redução de 30% da maioria das metas e diretrizes definidas para 2030, que devem ser atingidas antes. Ele afirmou, ainda, que a unidade que a empresa opera em Mara Rosa (GO), vai passar a operar integralmente com energia solar.
Fechando o evento, o terceiro painel abordou o tema “Energias Renováveis” e teve a participação de Paulo Eduardo Pinto (CEO do TSX Group, que atuou como moderador), José Augusto Palma (vice-presidente Executivo da Aclara Resources), José Eduardo Zampieri (da Illian), Caroline Marci (da Meteoric) e Amanda Cássia Machado (diretora de Novos Negócios da XCMG).
Paulo Eduardo Pinto afirmou que a questão da descarbonização de certa forma foi tomada por uma agenda política que acaba prejudicando a evolução do tema, mas que o próprio evento é uma demonstração da importância e necessidade de discussão do tem.
José Augusto Palma elogiou a forma como o Brasil cuida da transição energética, com posição de liderança na América do Sul, e como o País tem a oportunidade de continuar desempenhando esse papel, não apenas contribuindo para a descarbonização no próprio País, mas também em nível global com a produção de minerais críticos para a transição energética, como é o caso das terras raras que serão produzidas pela Aclara Resources em território brasileiro.
Amanda Machado, por sua vez, abordou as soluções energéticas aplicadas na mineração. E expôs as oportunidades e as soluções oferecidas pela XCMG no Brasil, contribuindo no processo de descarbonização. Ela disse, ainda, que a adoção dessas novas tecnologias é um desafio para as mineradoras, mas que há uma pré-disposição em incorporá-las em seus processos produtivos.
Caroline Marci, da Meteoric, falou sobre a sustentabilidade do projeto Caldeira, que a Meteoric deve implantar em Caldas (MG), que será um dos maiores projetos de terras raras no mundo. Ela disse que a descarbonização requer um diálogo construtivo entre as empresas e os entes públicos, colocando a transição energética como uma possibilidade e uma necessidade no Brasil.
José Zampieri, disse que o uso de energia renovável tem obtido bastante receptividade por parte das empresas de mineração. Ele salientou que a autoprodução é uma janela de oportunidade que está para se fechar e que as empresas estão prontas para aproveitar. E que acredita muito na simbiose entre a mineração e o setor elétrico.
O evento contou com o patrocínio das empresas Construtora Barbosa Mello e XCMG (patrocínio master), CBMM e Meteoric (patrocínio ouro), Aclara Resources, Affry, CMU, Hochschild Mining, Illian, Metso e TSX (patrocínio prata).
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