
Um levantamento do Greenpeace Brasil constatou uma enorme área destruída pelo garimpo dentro da Terra Indígena Sete de Setembro, do povo Paiter Suruí, localizada entre Rondônia e Mato Grosso. Imagens de satélite e de radar analisadas pela organização mostraram que o território tem acumulado 78 hectares devastados pela atividade garimpeira ou o equivalente a 109 campos de futebol. A atividade ilegal está concentrada principalmente nas ramificações do rio Fortuninha, na região central da Terra Indígena, e nos braços do rio Fortuna, na parte nordeste do território.
Os monitoramentos anteriores do Greenpeace Brasil na TI Sete de Setembro revelaram que a devastação por garimpo cresceu no território nos últimos anos: a área acumulada afetada pelo garimpo em 2022 era de 55 hectares; saltou para 72,16 hectares em 2024 e, em janeiro de 2025, alcançou 78 hectares. “O povo Paiter Suruí vem sofrendo um aumento dos conflitos territoriais dentro da TI Sete de Setembro há mais de uma década, tendo de resistir a diversas formas de pressão de invasores que tentam se apropriar de seus recursos naturais, como o ouro, diamantes e cassiterita. É urgente que as autoridades tomem medidas de proteção, com ações efetivas de fiscalização e monitoramento para impedir a abertura de novas áreas de garimpo e garantir a recuperação das áreas já degradadas pela atividade ilegal, além da desintrusão dos garimpeiros”, aponta o porta-voz da Frente de Povos Indígenas do Greenpeace Brasil, Jorge Eduardo Dantas.
O Greenpeace Brasil realizou o levantamento a partir do sistema de monitoramento remoto Papa Alpha, que utiliza imagens de satélite do Planet Lab, do GLAD (Global Analysis and Discovery) e de radar do RAAD (Radar for Detecting Deforestation). Imagens feitas em campo obtidas pelo Greenpeace também mostram o tamanho da destruição causada pelos garimpos. Em algumas, é possível ver a presença de maquinários como escavadeiras. O Greenpeace Brasil enfatiza a urgência do cumprimento da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/1981) e de outras normas legais para proteger os direitos do povo Paiter Suruí e conter a destruição ambiental. A organização defende a intensificação da fiscalização na Terra Indígena, a retirada imediata dos invasores e a inutilização do maquinário utilizado no garimpo, além de ações emergenciais para recuperação das áreas degradadas e a responsabilização dos envolvidos nessa exploração criminosa.
A Terra Indígena Sete de Setembro possui uma área de 248 mil hectares, localizados entre os municípios de Cacoal e Espigão D'Oeste, no estado de Rondônia. A maior porção (60%) está localizada no município de Rondolândia, no estado do Mato Grosso. Há mais de uma década, a TI Sete de Setembro tem enfrentado a pressão de atividades ilegais, principalmente o garimpo. A TI está inserida no arco do desmatamento, uma região crítica onde a fronteira agrícola avança sobre áreas protegidas. Dados do PRODES apontam que o desmatamento atingiu seu pico em 2021 com a perda alarmante de 1.420 hectares de vegetação. No total, mais de 5.000 ha já foram desmatados no território desde 2008.
Recentemente, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, divulgou uma minuta de Lei Complementar como resultado das reuniões da Mesa de Conciliação do Marco Temporal. Um dos pontos mais controversos é a permissão para exploração de minerais estratégicos em Terras Indígenas. “É muito preocupante pensar que se essa proposta de abrir terras indígenas para exploração econômica for aceita, as cenas de destruição do garimpo hoje vistas em vários territórios protegidos, como a Sete de Setembro, serão cada vez mais frequentes e comuns. O Brasil precisa superar o modelo econômico que encara a floresta e a natureza apenas como recursos a serem explorados. Precisamos de uma abordagem mais racional e sustentável”, aponta Dantas. Além dos danos ambientais, como assoreamento e contaminação dos rios e vegetação severamente degradada, a presença de garimpeiros representa risco para a população indígena, que enfrenta ameaças, desestruturação social e impactos ao seu modo tradicional de vida e à saúde.
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